sábado, junho 24, 2006

E-learning: o fim antes do princípio?

Um relatório intrigante (arquivado aqui) da Universidade da Pensilvania, que procura responder à pergunta "Porque rebentou a bolha do e-learning?".

Os autores concluem:

Even when they use e-learning products and devices, most faculty still teach as they were taught—that is, they stand in the front of a classroom providing lectures intended to supply the basic knowledge the students need. Hence, we see the success of course management systems and PowerPoint— software packages that focus on the distribution of materials rather than on teaching itself.
What is Thwarted Innovation’s conclusion? E-learning will become pervasive only when faculty change how they teach—not before.

quarta-feira, junho 21, 2006

E o nosso papel, no meio disto?...

Temos estudantes apáticos, temos estudantes agressivos. Temos uma grande massa de estudantes que não conhecemos na rua, anos depois. Temos estudantes que plagiam inocentemente, argumentando que "assim fica mais bonito..." E de vez em quando temos estudantes fulgurantes, que nos dão a ler Jeremy Narby (v. aqui mas também aqui), realizam video clips, ouvem Brassens e Lila Downs, gostam de fotografia, criam blogues.


E fico a pensar... Podíamos tornar interventivos os apáticos? Civilizar os agressivos? Personalizar a massa? Fazemos alguma diferença? E se não, porque não?

[Esta técnica de se esconder atrás do plural resulta, mas torna-se demasiado óbvia se não for usada com moderação]

sexta-feira, junho 16, 2006

Mudam-se os tempos...

Dois recentes documentos provenientes do MCTES devem ser analisados com atenção em função daquilo que revelam das profundas mudanças que se adivinham.

São eles o “Compromisso com a Ciência”, divulgado em Abril passado, e a intervenção de hoje na Assembleia da República.

Pelo seu impacto na Universidade dos Açores, designadamente ao nível do ensino, relevo os pontos abaixo, a que acrescentei alguns comentários.

Do "Compromisso":
  • Apoio aos Cursos de Especialização Tecnológica criados na sequência do seu novo enquadramento legislativo(...)
  • Determinar-se-á o cancelamento do financiamento de pólos de Ensino Superior abaixo de limiares mínimos, a fixar por avaliações independentes.
    • Está na hora de (mais uma vez? finalmente?) repensar a tripolaridade, em conjunto com todas as entidades interessadas.
  • Não serão financiados, salvo as excepções previstas, todos os cursos superiores de licenciatura com número de alunos em primeira inscrição inferior a 20.
    • Vai finalmente acabar a proliferação de cursos com nomes "giros", a hipoteca do futuro dos nossos jovens em função dos interesses de curto prazo do "establishment" universitário?
  • A integração de escolas politécnicas em Universidades (com integral manutenção do respectivo estatuto e missão), assim como a integração, total ou parcial, de escolas universitárias entre si(...)
    • Aqui parece-me que estamos no bom caminho. Haja visão no MCTES para permitir autonomizar as ESTAs, de modo a separar claramente os dois sub-sistemas no interior de um mesmo campus.
  • Revisão do número de horas de aulas dos alunos nos currículos escolares, hoje frequentemente muito superior aos padrões de referência internacionais.
    • Concordo absolutamente, desde que enquadrado num contexto de responsabilização do estudante, de utilização construtiva do tempo.
  • Maior integração de estudantes de licenciatura e mestrado, como jovens investigadores, em projectos de I&D.
    • Numa perspectiva mais alargada: é essencial a integração dos estudantes na sociedade, o que implica que as próprias actividades lectivas sejam desenhadas nesse sentido.
  • Gestão diferenciada do tempo lectivo de cada docente, em função da sua actividade de investigação.
    • Bolonha vai acarretar modificações também na forma de contabilizar a actividade lectiva que não se esgotam na respectiva articulação com a investigação. Estou a pensar nas tarefas de gestão e administração, ou nas prestações de serviços. Como em muitas outras coisas, a solução tem que passar pela autonomia das instituições, e pela assunção de critérios claros e consensuais na distribuição do serviço docente.
Da intervenção:
  • a densidade de trabalho conjunto entre instituições de ensino, investigação e empresas, (...) o recurso sistemático a conhecimento cientifico organizado para apoio à decisão, são alguns dos aspectos em que se exprime a prioridade nacional ao conhecimento e às qualificações que por certo a todos nos une.
    • E aqui não posso deixar de lamentar a nossa tendência a trabalhar isolados, as secções fechadas umas para as outras, os departamentos sem comunicar, as universidades espreitando-se por cima dos muros e olhando de cima para baixo o resto da sociedade.
    • Também lamento o corporativismo dos nossos mecanismos de decisão, o voto de braço no ar a sufocar tanta vez os mais bem estruturados esforços de racionalidade e as mais bem fundamentadas propostas de mudança.

  • Será tornada obrigatória a recolha e divulgação de informação sobre o emprego dos diplomados de cada instituição de Ensino Superior nos últimos anos.
    • Pode ser que a autoridade consiga fazer o que o bom senso já desistiu de tentar mas que a integridade profissional continua a lamentar que não se faça...
  • Será racionalizada a oferta de cursos no Ensino Superior, através de um processo participado pelas próprias instituições mas também por outras entidades relevantes da vida económica e social (...)
    • Não é evidente que, se a Universidade pretende desempenhar um papel social, deve auscultar a própria sociedade, desde logo na formação que oferece?

  • (...) promoveremos o debate público sobre a reforma dos modelos jurídico e organizativo das instituições de ensino superior (...) Considero, em particular, que o actual modelo das Universidades públicas, inseridas como estão na administração do Estado, já não serve o País (...)
    • Talvez sim, talvez não. Não tenho uma posição firmada sobre o assunto. Mas sei de muitas coisas que estão mal, e encaro sempre com optimismo oportunidades de quebrar o status quo.
Termino numa nota positiva, contrária ao tom do soneto que dá o título a este texto: o Decreto-Lei 74/2006 deu-me a primeira indicação de que Mariano Gago está disposto a usar o poder de que dispõe no sentido de provocar profundas mudanças no panorama do ensino superior português. Essa indicação veio da inclusão na letra da lei dos descritores de Dublin. Uma clara violação, penso eu, da autonomia pedagógica universitária, mas que veio colocar a questão do ensino por competências no topo das prioridades. Mesmo que apenas no plano formal, todos os que estiveram ou estão envolvidos na adequação dos cursos tiveram que se preocupar com isto. As medidas mais recentes confirmam esta indicação.

Está criado o clima favorável à mudança, numa altura em que existem os instrumentos e o conhecimento para a fazer de forma adequada e responsável. Que os utopistas entorpecidos saibam aproveitar a oportunidade.

quinta-feira, junho 15, 2006

Resultados da aprendizagem

Apesar de alguma confusão na terminologia e na própria definição dos conceitos, há um acordo geral entre as pessoas que se preocupam com o futuro do ensino superior no sentido da necessidade de estruturar o ensino em torno da aquisição de competências pelos estudantes. Colocando o ênfase no estudante, torna-se necessário avaliar, medir de alguma forma, o respectivo grau de domínio do perfil de competências inicialmente definido.

Chega-se assim à necessidade de estabelecer listas de resultados de aprendizagem (learning outcomes) a vários níveis, que não são mais que balizas ao longo do percurso, permitindo tornar visível a todos os intervenientes no processo educativo o grau de domínio das competências que se pretendem desenvolver.

Os passos para o desenvolvimento destes indicadores de aprendizagem estão bem estabelecidos:
  1. Começar por reuniões de docentes e de alunos em que são desenvolvidas idéias sobre o que o licenciado ideal deve saber, compreender e saber fazer. Consultar corpos profissionais, ver exemplos noutras universidades.
  2. Concordar numa lista de resultados de aprendizagem (r.a.) que demonstrem a obtenção dessas competências, sabendo que esta lista mudará com o tempo em função da experiência adquirida e do contexto externo e interno à instituição.
  3. Distribuir os r.a. de aprendizagem pelas unidades curriculares do curso.
  4. Delinear as estratégias de ensino/aprendizagem em função dos r.a., e medir a aprendizagem dos estudantes através de tarefas especificamente desenhadas para avaliar o grau de desempenho em cada um dos r.a. estabelecidos.
  5. Recolher opiniões de estudantes e docentes sobre os r.a. em si e sobre o ajustamento das estratégias de ensino/aprendizagem a esses r.a.
  6. Rever os r.a. e as estratégias de ensino/aprendizagem e de avaliação regularmente, com o objectivo de melhorar permanentemente a relevância e a efectividade da aprendizagem.
As universidades americanas têm muito a ensinar-nos neste contexto, como o comentário de Luis Aguiar-Conraria e o conjunto de documentos disponibilizado pela Kansas State University tornam absolutamente claro.

terça-feira, junho 13, 2006

o Homem, o homem ou a pessoa?

Já há algum tempo que evito usar a palavra "homem" para me referir à espécie humana, e recomendo aos meus alunos que façam o mesmo. Tenho tido inclusivamente algumas discussões sobre este assunto com pessoas (inclusivamente mulheres) que defendem o uso do termo por, entre outras, questões de tradição.

Ficava pois na dúvida se estaria a cair nalgum exagero do politicamente correcto. Mas afinal até há directivas da UNESCO neste sentido (já desde 1987!), e recomendações do Parlamento Europeu. Para saber mais, ver este artigo da Wikipédia.

sexta-feira, junho 09, 2006

Ondas...

O mundo dos blogues tem destas coisas: alguém coloca uma entrada que outros acham tão importante que a colocam também nos seus blogues. Propaga-se assim uma onda de citações, como as ondas que se formam a partir da famosa pedrada no charco.

Situações destas, longe de serem repetições desnecessárias, constituem uma medida importante da relevância do assunto.

A entrada de MJMatos é um destes casos, em que as idéias de Arnold Arons sobre o ensino são recordadas. LNunes adicionou à sequência o artigo de Richard Hake, e eu mais não faço do que deixar aqui o registo. Porque considero vital um ensino focado no estudante, não no sentido de lhe fazer as vontades mas no de estimular o desenvolvimento intelectual e a capacidade de participação na evolução da sociedade.