segunda-feira, agosto 27, 2007

Talvez sim, talvez não

Uma das minhas paragens de férias é a Biblioteca Municipal das Lajes do Pico. A parte dos adultos está fechada para obras, mas os meus miúdos vão regularmente reabastecer-se de Lucky Lukes e Astérixes, para além de outras coisitas com menos bonecos. Um dos últimos foi um livro editado há mais de dez anos: Barker, Dan, 1995. Talvez sim, talvez não. Guia para jovens com espírito crítico. Editorial Caminho, Lisboa.

Apesar de dirigido a um público juvenil (corrigo: por ser dirigido a um público juvenil) é um livro cuja leitura recomendo vivamente a qualquer estudante do ensino superior, e particularmente aos das áreas científicas. Com ilustrações interessantes, um texto simples e bem enquadrado apresenta os princípios essenciais do pensamento científico.

Transcrevo o essencial:

Ciência é a via pela qual aprendemos as coisas que dizem respeito ao mundo. Nem toda a gente pode ser cientista. Mas toda a gente pode utilizar a ciência. Para se ser um bom cientista é necessário seguir-se muito atentamente determinadas regras.
  • A primeira regra da ciência é: VERIFICAR. Não acredites de imediato naquilo que ouves e lês. Se uma coisa é verdade, terás de ser capaz de o verificar por ti próprio.
  • Uma outra regra é: TORNAR A FAZER. Se verificares uma coisa uma vez, tens de ser capaz de o fazer de novo. Se não conseguires repetir o teste, então não há maneira de teres a certeza de que essa coisa é verdadeira ou falsa.
  • Terceira regra: TENTAR PROVAR QUE É ERRADO. Se tentares provar que uma coisa é falsa e não conseguires, então provavelmente ela é verdadeira. Se não conseguires imaginar maneira de provar que uma coisa é falsa, então não haverá maneira de saber se ela é verdadeira. [O princípio da falseabilidade, de Karl Popper]
  • Outra boa regra é: ESCOLHER O QUE É SIMPLES. Por vezes há mais do que uma maneira de tentar explicar uma coisa. Se uma delas é complicada e a outra simples, normalmente os cientistas optam pela maneira simples. [A navalha de Occam]
  • Uma regra muito importante é: TEM QUE FAZER SENTIDO. Se uma coisa é verdadeira, então não pode dar azo a confusões. Tem que ser lógica.
  • Uma regra da ciência que nunca se deve violar é: SER HONESTO. Toda a gente se engana, e os bons cientistas admitem logo os seus enganos. Quem não é honesto pode nunca saber onde está a verdade. Não quer saber se uma coisa é falsa. Não está disposto a alterar as suas opiniões.
Os outros podem dizer-te o que tu deves pensar, e deves ouvi-los porque podem ter razão. Mas também podem estar enganados. Tens de decidir, por ti próprio, o que é verdadeiro e o que é falso.

terça-feira, agosto 07, 2007

... e mais empregabilidade.

Um pequeno registo das observações pertinentes de Alexandre Sousa, quer no Co-labor (gostei particularmente desta entrada, e da chamada de atenção que fez para o video Did you known?) quer no Labinov.

sábado, agosto 04, 2007

Empregabilidade

Com a sua pertinência habitual, Regina Nabais chama a atenção na sua entrada de hoje no Polikê? para a questão das definições de empregabilidade. Pensava eu que sabia o que era a empregabilidade, e afinal há pelo menos 8 (oito!) definições, que Natália Alves se encarregou de compilar, ao mesmo tempo que analisa a actual orientação das políticas sociais numa lógica de individualização e responsabilização individual e de tendência crescente para a privatização dos problemas sociais. Fico envergonhado, porque já fui muito avisado da importância de uma percepção clara do significado das palavras que usamos.

Do texto de Regina Nabais repesco ainda a referência ao documento da Commission on Achieving Necessary Skills:
The Secretary's Commission on Achieving Necessary Skills (SCANS) was asked to examine the demands of the workplace and whether today's young people are capable of meeting those demands. Specifically, the Commission was directed to advise the Secretary on the level of skills required to enter employment.
Para além das discussões semânticas, ou das críticas políticas, esta discussão transportou-me logo aos texto de Ivan Ilich sobre a relação entre educação e escolaridade. E fiquei a pensar como conciliar as propostas de Ilich sobre a aprendizagem, que me atraem tanto, com o pragmatismo necessário à navegação no nosso sistema social e político. E a resposta leva-me ao esquizofrenismo tão heinleiniano de manter uma crosta exterior de conformidade a proteger um núcleo de crenças revolucionárias, as quais se manifestam num círculo muito restrito. Perdida a esperança na utopia enquanto re-engenharia social, como nos penitenciamos do nosso egoísmo?