Como tenho algumas responsabilidades no campo da tecnologia aplicada ao ensino, estou tão atento a este assunto quanto possível. Já conhecia a
revista Sísifo, mas fiquei contente por me terem
chamado a atenção para o seu último número. Dele repesco algumas notas do excelente artigo de Guilhermina Lobato Miranda, "
Limites e possibilidades das TIC na educação".
"Existem mesmo autores, como Clark (1994), que consideram que os Media Educativos por si só nunca influenciarão o desempenho dos estudantes. Os efeitos positivos só se verificam quando os professores acreditam e se empenham de “corpo e alma” na sua aprendizagem e domínio e desenvolvem actividades desafiadoras e criativas, que explorem ao máximo as possibilidades oferecidas pelas tecnologias. E para isto é necessário que os professores as usem com os alunos:
a) como novos formalismos para tratar e representar a informação;
b) para apoiar os alunos a construir conhecimento significativo;
c) para desenvolver projectos, integrando (e não acrescentando) criativamente as novas tecnologias no currículo."
Esta é de facto a minha experiência: colocar professores em frente de computadores, ou generalizar a utilização da Internet, não resulta por si só em melhorias na aprendizagem. Os problemas tão reportados de plágio de textos obtidos na internet ilustram esta observação: na ausência de contextualização e de interiorização de métodos de trabalho e de princípios de ética, verifica-se a transposição dos velhos hábitos para os novos meios. A aprendizagem, essa, é a mesma.
Na sequência do seu artigo, a autora lista os elementos necessários para construir um conhecimento significativo, os quais são obviamente independentemente da tecnologia utilizada:
- "(...) os alunos constroem os novos conhecimentos com base nas estruturas e representações já adquiridas sobre os fenómenos em estudo e que devem estar cognitiva e afectivamente envolvidos no processamento da nova informação"
- "(...) os novos conhecimentos são adquiridos com base nas aprendizagens realizadas anteriormente"
- "(...) os professores devem apoiar os alunos a desenvolver estratégias de aprendizagem de modo a adquirirem hábitos de estudo e de trabalho intelectual, e ainda padrões de correcção do seu próprio trabalho, de modo a progressivamente se irem autonomizando da tutela do professor"
- "(...) o conhecimento, por parte dos alunos, das finalidades ou metas a atingir em cada situação de aprendizagem, facilita o processo de construção de conhecimento, pois imprime-lhe um intencionalidade e direcção"
- "(...) o seu sentido [da aprendizagem] advém do contexto onde foi realizada. São os contextos que facilitam ou, pelo contrário, dificultam a aplicação dos conhecimentos."
- "[A aprendizagem faz-se] em contextos de práticas sociais que implicam a colaboração entre iguais e destes com os adultos que, em princípio, se tornam os tutores que modelam progressivamente determinados conhecimentos e atitudes. A aprendizagem é aqui considerada sobretudo um processo de interacção social que deveria ser promovido pelos
professores."
A autora termina o seu artigo numa nota negativa, temendo que a generalização do uso das tecnologias no ensino tenha que esperar pelo impulso das gerações mais novas. O meu pessimismo é de todo outro. A generalização do uso das TIC no ensino vai acontecer com certeza nos próximos anos. Só não acredito que mude substancialmente a percentagem de alunos que têm acesso a um ensino de qualidade e a uma aprendizagem que os enriqueça enquanto pessoas.