sábado, agosto 04, 2007

Empregabilidade

Com a sua pertinência habitual, Regina Nabais chama a atenção na sua entrada de hoje no Polikê? para a questão das definições de empregabilidade. Pensava eu que sabia o que era a empregabilidade, e afinal há pelo menos 8 (oito!) definições, que Natália Alves se encarregou de compilar, ao mesmo tempo que analisa a actual orientação das políticas sociais numa lógica de individualização e responsabilização individual e de tendência crescente para a privatização dos problemas sociais. Fico envergonhado, porque já fui muito avisado da importância de uma percepção clara do significado das palavras que usamos.

Do texto de Regina Nabais repesco ainda a referência ao documento da Commission on Achieving Necessary Skills:
The Secretary's Commission on Achieving Necessary Skills (SCANS) was asked to examine the demands of the workplace and whether today's young people are capable of meeting those demands. Specifically, the Commission was directed to advise the Secretary on the level of skills required to enter employment.
Para além das discussões semânticas, ou das críticas políticas, esta discussão transportou-me logo aos texto de Ivan Ilich sobre a relação entre educação e escolaridade. E fiquei a pensar como conciliar as propostas de Ilich sobre a aprendizagem, que me atraem tanto, com o pragmatismo necessário à navegação no nosso sistema social e político. E a resposta leva-me ao esquizofrenismo tão heinleiniano de manter uma crosta exterior de conformidade a proteger um núcleo de crenças revolucionárias, as quais se manifestam num círculo muito restrito. Perdida a esperança na utopia enquanto re-engenharia social, como nos penitenciamos do nosso egoísmo?

2 comentários:

Rosa Silvestre disse...

É só pelo discurso (falado e escrito) e pelo diálogo que podemos ultrapassar a brutalidade em que a nossa natureza nos encerra, ou seja, pelas suas palavras, somente assim poderemos nos penitenciar do nosso egoísmo, perdida a esperança na utopia enquanto re-engenharia social?! Será?

LN disse...

Nada de ficar envergonhado (e lá fui mudar a cor ao texto, por causa deste teu link...)!
Claro que a pergunta que me fez abrir a caixa de cometários: "Perdida a esperança na utopia enquanto re-engenharia social, como nos penitenciamos do nosso egoísmo?"

Numa pergunta, atiraste Thomas More e Ernst Bloch pela janela (o «Princípio Esperança» e a utopia como um «optimismo militante»), convocaste-me a re-negar a esperança (pois, a tal ideia de que esperar é o que faço quando não posso mesmo agir - daí, o des-esperadamente do Comte-Sponville chamar à acção) e a enxotar daqui o John Gray. Entre muitos outros, que decerto tinhas e tens em mente. (risos).

A pergunta que fazes, pelo processo («como....») faz menos sentido para quem a lê, não apenas porque o «como» está colocado depois do «quê» (ou seja, perdida a esperança numa utopia de reengenharia social) como torna esse «quê» numa premissa quase axiomática.

Perdida? abalada? mas a utopia, por definição, não tem lugar...é a-topos. É uma ideia sobre, certo? então, como se perde uma ideia? e, mais, a esperança numa ideia? pelo confronto com os factos? pelo desalento? pela desilusão?
Antes do como, preciso dos porquês :) e dos «para onde». Só pensando metas, se traçam processos (isto é, «comos»). Fez algum sentido?? aceitando que se perdeu, então em que direcção se ruma?
Quanto ao egoísmo, assumindo que possa burilar-se, desgastar-se, talvez, em certa medida, e numa dada dimensão, possa tornar-se virtuoso, não???
beijos (e desculpa o comentário-em-lençol...)