quarta-feira, dezembro 31, 2008

Ensino à distância de acesso livre

Uma ideia simples mas brilhante: pedir a especialistas em várias áreas que façam pequenos vídeos explicativos daquilo que sabem fazer, de modo a que as pessoas interessadas possam aprender. O ensino demonstrativo no seu melhor. É na Expert Village. Estou agora a seguir as aulas de improvisação jazz em guitarra. Mas já aprimorei o meu crawl graças a estas lições.


terça-feira, dezembro 30, 2008

Authentic Assessment

What is authentic assessment? A form of assessment in which students are asked to perform real-world tasks that demonstrate meaningful application of essential knowledge and skills. An authentic assessment usually includes a task for students to perform and a rubric by which their performance on the task will be evaluated.

University of Oklahoma Program for Instructional Innovation


We invite everyone, on-campus and off-campus, to visit this website. It contains
some of our current ideas on good teaching, as well as information about the
services and activities of our Program.
Estou lá!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

A empregabilidade e a educação

Estou a ler com 13 anos de atraso Avertissement aux écoliers et lycéens, de Raoul Vaneigem, mas na versão portuguesa (Aviso aos alunos do básico e do secundário, Ed. Antígona).
"Não há criança nenhuma que entre numa escola sem se expor ao risco de perder-se; ou seja, de perder a vida exuberante, ávida de conhecimentos e surpresas que tão exaltante seria alimentar, em vez de a esterilizar e desesperar sob a canga do enfadonho trabalho do saber abstracto. Que terrível testemunho nestes olhos brilhantes, logo desbotados."
Nota-se que Vaneigem gosta da escola ("A escola detém a chave dos sonhos numa sociedade que os não tem") mas faz ao seu estado presente uma crítica arrasadora. Tocando todos os pontos certos, enquadra-se o modelo de sociedade presente na sua evolução histórica a partir da Revolução Industrial, quando a produção em massa acelerou o consumo dos recursos naturais e dividiu o mundo entre exploradores e explorados, até aos nossos dias, em que a liturgia do mercado está a encaminhar todo o planeta para o abismo. A escola surge como um instrumento de domínio e de manutenção da ordem capitalista.

Longe de (ou apesar de) ser um planfleto anarquista, este livro está bem fundamentado e mantém por isso a sua actualidade. Discordo de algumas coisas, como sejam a inclusão da família juntamente com a escola, a tropa, o hospital e a cadeia como instituições ao serviço da sociedade mercantil. Achei interessante ver o que me parece ser uma defesa de um neocapitalismo em que, através de um investimento ecológico, seria garantido um salário e um tempo de trabalho reduzido que deixaria tempo livre para a criação e o vagar. Por mim fico até preocupado com a perspectiva de um capitalismo esverdeado, um capitalismo melancia, verde por fora mas vermelho-sangue por dentro, com a mesma ganância do lucro a sobrepor-se a tudo o resto. Este capitalismo circundará certamente a actual crise energética e fará dinheiro com isso, de modo a garantir o status-quo e a manutenção da nossa marcha triunfante em direcção à hecatombe planetária.

De repente, a ideia do ensino para a empregabilidade já não me parece tão entusiasmante, sobretudo se cruzada com a chamada de atenção de Kieran Egan (v. entrada anterior) para a incompatibilidade entre um ensino virado para a compreensão do mundo e a realização pessoal e um ensino socialmente útil. Chegam-me aos ouvidos ecos das discussões do período de implementação de Bolonha, em que algumas vozes defensoras de ideais académicos se opunham veementemente ao que viam como a mercantilização do ensino. A Universidade vai ter que alinhar com um ou outro campo. Ou cada uma das universidades terá que o fazer por si. Isto, naturalmente, se fosse possível tornar esta instituição numa força de mudança em vez de uma correia de transmissão.



A propos:

Os 4 R's de William Doll

Eu, que não estudei nem pedagogia nem psicologia, tenho muitas deficiências básicas nessas áreas.


[A propósito: o facto de um professor universitário poder dizer uma coisa destas traduz uma incrível falha do sistema... Pensando melhor, o sistema não falhou- apenas já não serve perante as modernas concepção de ensino.]

Deu-me por isso muito jeito que Lixin Luo goste tanto da sua sobrinha Dongdong e se tenha dado ao trabalho de explicar à sua irmã os conceitos básicos d(e um)a visão pós-modernista do currículo, no caso a de William Doll. Ler o artigo de Luo na Transnacional Curriculum Inquiry.

domingo, dezembro 21, 2008

Ferramentas cognitivas

Há livros que se lêem. Há livros que lêem várias vezes. E há livros que nos fazem ir buscar um lápis e sublinhar e dobrar os cantos das páginas e ir à net procurar saber mais.

Acabei de re-ler (sim, li duas vezes seguidas, sublinhando e anotando da segunda vez) "The future of education", de Kieran Egan, e confesso que fiquei entusiasmado. Muito do que lá está dito simplesmente "bate certo". A dissonância entre o ensino para a socialização (ou para a empregabilidade) e o ensino para a o saber, por exemplo, torna-se clara. E os argumentos para a incompatibilidade entre as duas funções do ensino são fortes (1). Que isso deixe em frangalhos toda a teorização sobre o ensino baseado em competências que constitui o actual paradigma do ensino superior é só mais uma angústia a acrescentar ao meu rol.
E a ideia das ferramentas cognitivas faz tanto sentido...
Para Egan, o papel da educação é permitir o desenvolvimento máximo da mente, entendida como um órgão cultural, onde as capacidades cerebrais e a cultura interagem. Citando Vygotsky, propõe que a educação deve maximizar o nosso conjunto de ferramentas cognitivas(2), cujo principal trabalho é produzir compreensão. Se o cérebro for comparado a um computador, essas ferramentas serão o respectivo sistema operativo, o qual pode ser actualizado de modo a ser dotado de funcionalidades que, partindo das pré-existentes, as completam e expandem, criando novas capacidades e novas possibilidades.
Os principais sistemas operativos da mente são descritos como vários tipos de compreensão:
  • Somática- os nossos sentidos dominantes (visão, audição, tacto, gosto e olfacto) condicionam e enriquecem a nossa percepção da realidade. A compreensão somática é maximizada pela estimulação e desenvolvimento dos sentidos, do humor e das emoções.
  • Mítica- relacionada com a linguagem, deve ser desenvolvida através do uso da "história" enquanto técnica que permite a interiorização contextualizada de factos, levando ao desenvolvimento da capacidade de reconhecer e usar metáforas ricas e variadas. Ver o suplemento ao livro Teaching as Story Telling.
  • Romântica, ligada à literacia (ver Egan & Gajdamaschko).
  • Filosófica, associada à adopção do pensamento geral, abstracto e teórico. As ferramentas associadas a este tipo de compreensão são a visão própria enquanto agentes dos processos históricos e sociais, a abertura para as anomalias, a capacidade de formar metanarrativas e a necessidade de alguma base de verdade e de autoridade.
  • Irónica a qual, na sua forma mais simples, consiste na em reconhecer a diferença entre o que se diz e o que se pretende dizer. A compreensão dos limites das palavras liga-se ao reconhecimento de que a nossa descrição de ideias, verdades ou factos é inadequada perante a verdadeira natureza desses fenómenos. A flexibilidade mental é uma consequência da aquisição deste conjunto de ferramentas.
Kieran Egan faz parte do Imaginative Education Research Group.



(1) ver Egan (2001), Why education is so difficult and contentious.
(2) Muito do livro "The Educated Mind" pode ser lido online no Google Books.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Plágio ou Inspiração

Nada do que fazemos é feito no vácuo. Ouvimos o que outros dizem, lemos o que outros escreveram, vemos o que os outros fazem... Pouco há, na nossa vida e nos nossos sentimentos, que não tenha já sido experimentado e sentido por milhares de outros seres humanos, noutros locais e noutros tempos. O amor, o desengano, o ódio, a tristeza, mesmo a saudade. Temas glosados à exaustão nessa epopeia universal, temas tão gastos que só a nossa ignorância (ou o nosso egoísmo) faz parecer novos.
Como distinguir, então, a inspiração do plágio? Talvez a comparação destes dois poemas sugira algumas pistas.










Le Dormeur du Val

Arthur Rimbaud
1870

C'est un trou de verdure où chante une rivière
Accrochant follement aux herbes des haillons
D'argent ; où le soleil, de la montagne fière,
Luit : c'est un petit val qui mousse de rayons.

Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue,
Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu,
Dort ; il est étendu dans l'herbe sous la nue,
Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.

Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme
Sourirait un enfant malade, il fait un somme :
Nature, berce-le chaudement : il a froid.

Les parfums ne font pas frissonner sa narine ;
Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine
Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.
O Menino da Sua Mãe

Fernando Pessoa
1926

No plaino abandonado
Que a morta brisa aquece,
De balas traspassado -
Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
É boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Post scriptum
:

domingo, dezembro 07, 2008

Problemas do ensino à distância

O ensino à distância não é só rosas, como se pode ver neste artigo de Hara & King (2000), Students’ Distress with a Web-based Distance Education Course: An Ethnographic Study of Participants' Experiences.

Mas só se aprende com os erros...

Encontrei esta referência no site Technology and Webagogy, de Rick Ells. Vale a pena ir espreitar, porque tem lá mais pérolas, como esta.

Bibliografia sobre ensino participativo

Como apoio à 4th Annual National Conference Team-Based Learning in Medical & Health Sciences Education, com o tema Developing Strategies for Facilitating Interactive Classroom Discussion in TBL (Team-Based Learning), Derek R. Lane colocou online quatro excertos de livros didáticos muito interessantes:
  • Davis, B. G. (1993). Tools for teaching. (pp.63-91). San Francisco: Jossey-Bass.
  • Eble, K. E. (1988). The craft of teaching: A guide to mastering the professor’s art (2nd ed.). (pp. 83-97). San Francisco: Jossey-Bass.
  • McKeachie, W. J. (2002). Teaching tips: Strategies, research, and theory for college and university teachers. (pp. 30-51). Boston, MA: Houghton Mifflin.
  • Stanfield, B. (2000). The art of focused conversation: 100 ways to access group wisdom in the workplace. Gabriola Island, Canada: New Society Publishers.
Pode descarregá-los neste endereço.

A arte de fazer perguntas

A avaliação é um processo complexo que começa muito antes de os alunos começarem as aulas. Definir os objectivos é já condicionar a avaliação, se queremos que esta seja consequente.

Mas muito da avaliação passa por fazer perguntas, e para isso o manual do National Board of Medical Examiners Constructing Written Test Questions For the Basic and Clinical Sciences é um recurso interessante. Disponível também em espanhol e em russo.