Um espaço de reflexão pessoal e de diálogo sobre a problemática do ensino e da aprendizagem no ensino superior no contexto da Universidade dos Açores
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Plágio ou Inspiração
Nada do que fazemos é feito no vácuo. Ouvimos o que outros dizem, lemos o que outros escreveram, vemos o que os outros fazem... Pouco há, na nossa vida e nos nossos sentimentos, que não tenha já sido experimentado e sentido por milhares de outros seres humanos, noutros locais e noutros tempos. O amor, o desengano, o ódio, a tristeza, mesmo a saudade. Temas glosados à exaustão nessa epopeia universal, temas tão gastos que só a nossa ignorância (ou o nosso egoísmo) faz parecer novos. Como distinguir, então, a inspiração do plágio? Talvez a comparação destes dois poemas sugira algumas pistas.
Le Dormeur du Val
Arthur Rimbaud 1870
C'est un trou de verdure où chante une rivière Accrochant follement aux herbes des haillons D'argent ; où le soleil, de la montagne fière, Luit : c'est un petit val qui mousse de rayons.
Un soldat jeune, bouche ouverte, tête nue, Et la nuque baignant dans le frais cresson bleu, Dort ; il est étendu dans l'herbe sous la nue, Pâle dans son lit vert où la lumière pleut.
Les pieds dans les glaïeuls, il dort. Souriant comme Sourirait un enfant malade, il fait un somme : Nature, berce-le chaudement : il a froid.
Les parfums ne font pas frissonner sa narine ; Il dort dans le soleil, la main sur sa poitrine Tranquille. Il a deux trous rouges au côté droit.
O Menino da Sua Mãe
Fernando Pessoa 1926
No plaino abandonado Que a morta brisa aquece, De balas traspassado - Duas, de lado a lado -, Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue. De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era! (Agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: "O menino da sua mãe".
Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve. Dera-lhe a mãe. Está inteira É boa a cigarreira. Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... Deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece: "Que volte cedo, e bem!" (Malhas que o Império tece!) Jaz morto, e apodrece, O menino da sua mãe.
2 comentários:
lá desafiador, é....
Uma entrada em 2009, que inicialize um ano fantástico...
beijos
Não será fantástico (sejamos razoáveis), mas pelo menos tentaremos que o seja (sejamos utópicos).
Enviar um comentário