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De facto as pessoas habituam-se a tudo. Até a ver os seus sonhos morrerem debaixo do peso dos testes, exames, prepotências, decoranços e cábulas. Até não restar mais que um diploma...
Um espaço de reflexão pessoal e de diálogo sobre a problemática do ensino e da aprendizagem no ensino superior no contexto da Universidade dos Açores
[Extractos do Orçamento de Estado para 2006. Saliento a ênfase nas competências e na qualidade]
Ensino Superior
O principal objectivo do Governo para o Ensino Superior durante a presente legislatura respeita à necessidade urgente de garantir a qualificação das novas gerações para as exigências do espaço europeu, garantindo a plena integração e qualificação das instituições de ensino superior nacionais no espaço europeu de ensino superior.
Este desafio passa por assegurar a transição de um sistema de ensino baseado na ideia da transmissão de conhecimentos para um sistema baseado no desenvolvimento de competências. Esta é uma questão crítica central em toda a Europa e com particular expressão em Portugal, dados os altíssimos valores de abandono e insucesso que se verificam no nosso País e o peso conservador de modelos de ensino retórico e passivo.
Mas os desafios para Portugal incluem ainda a abertura no acesso ao ensino superior e a criação de condições para que todos os cidadãos possam ter acesso à aprendizagem ao longo da vida, assim como o desenvolvimento do papel das instituições de ensino superior neste processo.
Neste contexto, os principais objectivos para esta legislatura que orientaram a concepção do orçamento de estado para o ensino superior para 2006 incluem:
Concretizar o processo europeu de Bolonha de reforma do ensino superior, oportunidade para incentivar a frequência do ensino superior, melhorar a qualidade e a relevância das formações oferecidas, fomentar a mobilidade e a internacionalização;
Reforçar um sistema de ensino superior com instituições autónomas, facilitando a reforma do sistema de governo dessas instituições, de modo a desenvolver uma cultura de prestação de contas e flexibilizar as formas de organização e gestão, promovendo a desgovernamentalização do sistema e valorizando parcerias entre instituições nacionais e estrangeiras;
Promover a qualidade do sistema, valorizando a necessidade de actuar para públicos diversificados, o que requer estruturar um sistema de garantia de qualidade reconhecido internacionalmente, desenvolvendo o actual modelo de avaliação e financiamento e desenvolvendo um sistema nacional de acreditação;
Promover a igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior, melhorando os níveis de frequência e conclusão dos cursos superiores, atraindo novos públicos, numa lógica de aprendizagem ao longo de toda a vida e melhorando a acção social escolar.
De acordo com as exigências do DL 42/2005 a UAç deve
até final de Maio 2005
aprovar um regulamento de aplicação do sistema de créditos curriculares aos cursos conferentes de grau. (É necessário fazê-lo também, mas sem data limite, para cursos não conferentes de grau e para casos especiais, não organizados em anos, semestres ou trimestres lectivos).
"a partir de 2005" (segundo os compromissos assumidos por Portugal no chamado Comunicado de Berlim)
reestruturar os cursos, segundo as normas do Despacho 10543/2005 (2ª série), de 11 de Maio (o formulário pode ser descarregado na Divisão do Registo da DGES).
aplicar a escala europeia de comparabilidade de classificações.
emitir um boletim de registo académico aos alunos em mobilidade.
elaborar um guia informativo.
emitir um suplemento ao diploma (v. Comissão Europeia e NARIC Portugal ).
Subjacente ao Processo de Bolonha, no entanto, está uma alteração profunda de muitos dos paradigmas actuais, bem descrita neste artigo do Prof. João Vasconcelos Costa. É essa alteração que dá sentido a todas as obrigações acima elencadas. Assim, advoga-se
a criação de um perfil de competências transversais da UAç e, com base neste, de perfis de competências específicos para cada curso.
Ver, neste contexto, os descritores gerais e específicos produzidos no âmbito da Joint Quality Initiative, os resultantes do projecto Tuning, os do SEEC (resumidos aqui por J. Moon) e os da Quality Assurance Agency (gerais e específicos).
De interesse é também toda a discussão promovida pela ministra Maria da Graça Carvalho.
a adopção de métodos de ensino baseados no aluno, como a aprendizagem baseada em problemas.
Eu não diria melhor (obviamente). Enquanto a universidade não puder escolher o seu modelo de governação, como pode mudar? Enquanto o mérito não for recompensado, quem se levantará para trabalhar? Enquanto não se definirem os quadros de qualificações (será a mesma coisa que os perfis de competências?...) continuar-se-á com a avaliação tosca e tonta das notas e do "sucesso escolar". Reflexos no financiamento? Sim, senhor ministro, mas só quando o resto estiver assegurado...
- Conjugação da avaliação dos cursos, da avaliação científica e da avaliação da governação e gestão, começando logo a nível departamental. Resultado em classificações, com efeitos no financiamento.
- Reforma urgente da lei da autonomia, permitindo, sem imposições, a adopção de modelos modernos de governação, com efeitos também para a valoração no financiamento.
- Definição urgente de quadros nacionais de qualificações, por área disciplinar, - uma prioridade fixada na reunião de Bergen - sem cuja referência a adaptação a Bolonha vai ser, provavelmente, um processo inconsequente. São também muito importantes para a definição de novos guiões de avaliação programático (dos cursos).
- Estatuto da carreira docente que diferencie claramente os professores em termos de mérito e que estabeleça um sistema de classificação individual. Sem isto, é entregar tudo o resto à decisão dos medíocres.
Estou neste momento empenhado em que a UAç adopte um perfil de competências transversal e perfis específicos para cada curso, para alinhar com o que se faz noutros países, nomeadamente no Reino Unido. Esta busca da normalização da "produção" universitária é importante sem dúvida na melhoria da qualidade, ou pelo menos na respectiva avaliação. E é básico se a grande preocupação passa a ser a empregabilidade.