São eles o “Compromisso com a Ciência”, divulgado em Abril passado, e a intervenção de hoje na Assembleia da República.
Pelo seu impacto na Universidade dos Açores, designadamente ao nível do ensino, relevo os pontos abaixo, a que acrescentei alguns comentários.
Do "Compromisso":
- Apoio aos Cursos de Especialização Tecnológica criados na sequência do seu novo enquadramento legislativo(...)
- Determinar-se-á o cancelamento do financiamento de pólos de Ensino Superior abaixo de limiares mínimos, a fixar por avaliações independentes.
- Está na hora de (mais uma vez? finalmente?) repensar a tripolaridade, em conjunto com todas as entidades interessadas.
- Não serão financiados, salvo as excepções previstas, todos os cursos superiores de licenciatura com número de alunos em primeira inscrição inferior a 20.
- Vai finalmente acabar a proliferação de cursos com nomes "giros", a hipoteca do futuro dos nossos jovens em função dos interesses de curto prazo do "establishment" universitário?
- A integração de escolas politécnicas em Universidades (com integral manutenção do respectivo estatuto e missão), assim como a integração, total ou parcial, de escolas universitárias entre si(...)
- Aqui parece-me que estamos no bom caminho. Haja visão no MCTES para permitir autonomizar as ESTAs, de modo a separar claramente os dois sub-sistemas no interior de um mesmo campus.
- Revisão do número de horas de aulas dos alunos nos currículos escolares, hoje frequentemente muito superior aos padrões de referência internacionais.
- Concordo absolutamente, desde que enquadrado num contexto de responsabilização do estudante, de utilização construtiva do tempo.
- Maior integração de estudantes de licenciatura e mestrado, como jovens investigadores, em projectos de I&D.
- Numa perspectiva mais alargada: é essencial a integração dos estudantes na sociedade, o que implica que as próprias actividades lectivas sejam desenhadas nesse sentido.
- Gestão diferenciada do tempo lectivo de cada docente, em função da sua actividade de investigação.
- Bolonha vai acarretar modificações também na forma de contabilizar a actividade lectiva que não se esgotam na respectiva articulação com a investigação. Estou a pensar nas tarefas de gestão e administração, ou nas prestações de serviços. Como em muitas outras coisas, a solução tem que passar pela autonomia das instituições, e pela assunção de critérios claros e consensuais na distribuição do serviço docente.
- a densidade de trabalho conjunto entre instituições de ensino, investigação e empresas, (...) o recurso sistemático a conhecimento cientifico organizado para apoio à decisão, são alguns dos aspectos em que se exprime a prioridade nacional ao conhecimento e às qualificações que por certo a todos nos une.
- E aqui não posso deixar de lamentar a nossa tendência a trabalhar isolados, as secções fechadas umas para as outras, os departamentos sem comunicar, as universidades espreitando-se por cima dos muros e olhando de cima para baixo o resto da sociedade.
- Também lamento o corporativismo dos nossos mecanismos de decisão, o voto de braço no ar a sufocar tanta vez os mais bem estruturados esforços de racionalidade e as mais bem fundamentadas propostas de mudança.
- Será tornada obrigatória a recolha e divulgação de informação sobre o emprego dos diplomados de cada instituição de Ensino Superior nos últimos anos.
- Pode ser que a autoridade consiga fazer o que o bom senso já desistiu de tentar mas que a integridade profissional continua a lamentar que não se faça...
- Será racionalizada a oferta de cursos no Ensino Superior, através de um processo participado pelas próprias instituições mas também por outras entidades relevantes da vida económica e social (...)
- Não é evidente que, se a Universidade pretende desempenhar um papel social, deve auscultar a própria sociedade, desde logo na formação que oferece?
- (...) promoveremos o debate público sobre a reforma dos modelos jurídico e organizativo das instituições de ensino superior (...) Considero, em particular, que o actual modelo das Universidades públicas, inseridas como estão na administração do Estado, já não serve o País (...)
- Talvez sim, talvez não. Não tenho uma posição firmada sobre o assunto. Mas sei de muitas coisas que estão mal, e encaro sempre com optimismo oportunidades de quebrar o status quo.
Está criado o clima favorável à mudança, numa altura em que existem os instrumentos e o conhecimento para a fazer de forma adequada e responsável. Que os utopistas entorpecidos saibam aproveitar a oportunidade.
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